[TURMA DO COF - Semana 4] Introdução (Material diverso)
Sáb Jul 15, 2023 11:37 am
Sei que talvez tenha ficado muita coisa para uma semana, mas fiz questão de escolher vídeos para que fique mais fácil acompanhar. As notas que coloco abaixo atualizam algumas informações para o nosso contexto mais específico, e também com base na experiência que tive vendo como outros olavettes entenderam a proposta do Olavo. Espero que possa ser útil.
A visão geral aqui, para resumir, é: I) É preciso ser maximamente sincero; II) Ser sincero implica buscar tomar consciência dos elementos que formaram a sua consciência (quais filmes, séries, obras, experiências tiveram impacto nas suas escolhas passadas e podem estar gerando impacto hoje); III) tomada posse gradativa dessa sinceridade, é possível tentar ler os autores a partir não de nossos preconceitos, mas do que eles próprios pensavam sobre o mundo, para, com apoio deles e de mais e mais autores, tentar enxergar o mundo com a densidade de ideias que nos foi oferecida, harmonizando-as dialeticamente como aspectos desse mundo; IV) O Sumo Bem é o que vai se revelando no próprio processo de perceber essa hierarquia dialética que harmoniza as ideias; V) A prática religiosa só ganha sentido proporcionalmente a esse esforço; VI) Também nesse esforço é que se pode entender o que é de fato Amor.
1.1 - Oração e autoconhecimento
-> retomar a sua história, entender o que fez, por que fez, mesmo que tenha que mentir para viver no mundo, mas que retome sua história para não perder o fio da sinceridade pessoal, constantemente ["conhece-te a ti mesmo"]
1.2- Como são nossos pensamentos - Olavo de Carvalho.
-> O conjunto de coisas que você consome, quer preste atenção ou não, sopra sugestões de ideias e/ou molda seu modo de sentir as coisas. Na medida em que não tomamos consciência desses elementos, não podemos falar que tomamos nossas decisões com liberdade efetiva. Isso vale inclusive para a fé: mesmo com fé, é provável que ela esteja sendo filtrada ou mesmo destruída por inúmeros elementos pegos da cultura (e também da nossa história), e podemos passar uma vida inteira sem nunca tomar consciência disso.
-> [AVALIEM A SITUAÇÃO CONTEMPORÂNEA, em que somos o tempo inteiro inundado por informações as mais desencontradas possíveis! São fontes diferentes, com propostas diferentes, com propósitos diferentes, e tudo isso forma uma montanha imensa de confusão da qual sequer prestamos atenção, e tentamos esquecer, mas que não é realmente esquecido: está na nossa memória, e se torna um fator que também molda nossas decisões.]
2- Aprendendo a escrever
https://olavodecarvalho.org/aprendendo-a-escrever/
-> A questão aqui não é sobre escrita, mas sim em perceber que por baixo de um grande escritor existe uma tradição e uma história. É um convite a aprender a ler prestando atenção nesses elementos, para perceber, por exemplo, que Miguel de Unamuno continua Cervantes e Platão, que Machado de Assis continua Voltaire, e Ariano Suassuna continua Gil Vicente. Cada pessoa usa uma linguagem emprestada de um meio, e quem reconhece os vários meios consegue extrair ainda mais informações só em perceber o contexto que empresta significado às palavras do sujeito. É ler, não só textos, com profundidade, tentando captar o sentido específico e a intenção real nas palavras e coisas.
3.1- Como estudar, ler e escrever
-> Estudar com sinceridade total, aquilo que você realmente quer ser responsável. Eu falei do estudo por área e o estudo por tema: no estudo por área é possível fazer por uma obrigação burocrática: você cuida só de preparar os próximos artigos e conferências. Há uma forma de avaliação a que se está sendo submetido, como na escola ou na graduação, e basta "passar" e receber a recompensa (o salário). O estudo por tema, não: ele nasce e só se mantém pela busca genuína por entender alguma coisa, juntando as várias áreas, e é um trabalho cansativo, exaustivo, e que não tem um meio social que corresponda a isso. Ou seja, é preciso ter interesse real, tomando aquilo a partir da sua vida e para resolver sua própria vida. Veja, por exemplo, o ensaio sobre o filme Aurora do Olavo.
-> "Ordem na leitura não existe". Nós nos acostumamos com a ideia de uma ordem a partir de um currículo; por outro lado existe a ordem histórica do nascimento e desenvolvimento das ideias. Ainda assim, não podemos entender nada pelo seu rastreio histórico, porque fomos formados a partir de um caos de ideias, que não corresponde nem ao de quem vivia no passado, ao mesmo tempo em que tem já seus pressupostos: então é preciso perceber a ordem que existe nas próprias ideias, ou nos próprios temas, e, para isso, frequentemente vai-se do passado para o presente, ou para um passado mais próximo.
3.2- Aprender as coisas com ordem através da leitura
-> a diferença da ordem didática, curricular, e a ordem cósmica. Como no vídeo anterior, aqui ele detalha: todas as ideias humanas tentam compreender as coisas, com maior ou menor precisão. Pela imaginação, como Olavo ensina com apoio de Stanislavski, é possível tentar encaixar as várias ideias numa só ideia, dialeticamente, que coloque as várias ideias em uma ordem hierárquica correspondente. Essa é a ordem real do tema, e requer primeiro uma confiança, que sempre existia, mas hoje não existe mais, e em seguida o esforço por encaixar as pecinhas na medida em que lê e tenta entender com o máximo de sinceridade possível.
4.1- Dicas de Estudos
-> O essencial do que fica da sua leitura são as frases que te chamaram mais atenção (e/ou que você leu com mais atenção) e as imagens que vieram e/ou que você trouxe, as associações, portanto, enquanto lia as frases. É por isso, por exemplo, que há o exercício de leitura lenta na aula 10: é pra treinar essa habilidade para que ela frutifique mais;
-> ler com lápis na mão para marcar o importante. Particularmente, eu separo uma folha, que dobro duas vezes no meio, para anotar as frases que me chamaram mais atenção e as ideias que vierem, porque facilita à memória. Ademais, em geral no começo dos estudos tudo ali é novo, então tudo chama atenção e mereceria ser marcado. O modo como Olavo fala, de só marcar o pedacinho que interessa, só vale mesmo quando já se estiver estabelecido, mas, também, é uma chamada de atenção para separar aquilo do livro que chama atenção, que pode ser quase tudo, para as coisas que são de fato mais importantes: se eu marco, por exemplo, todos os trechos que me chamam atenção (façam de lápis, para ser possível apagar), mas mesmo assim eu costumo separar na página de rosto as páginas onde têm os trechos que mais me chamaram atenção. São poucos, e esses são, de fato, o que ficam nos estudos;
-> Olavo fala imaginando que você leria 60 a 80 livros por ano. Então nem faz sentido sair fichando os livros, como, aliás, a posse desses livros, ainda que virtual, como pdfs, ou como fotos, implica os problemas de organizar a informação para ser capaz de retomá-la. Pensar nas categorias gerais de organização (CDI, CDU), nos temas que te interessam (e organizar com base neles), nas circunstâncias que te fizeram chegar ao livro (e entender a relação dele com as ideias que te atraem) é importantíssimo.
4.2- 60 livros por ano
-> Obviamente que isto aqui não é para quem está iniciando, mas serve como meta geral para quando os estudos já tiverem alguma consistência e regularidade;
-> Também não precisa seguir com exatidão as categorias propostas. São só a título de ilustração, e elas servem para cumprir basicamente duas propostas: a primeira é a recomendação do Antonin Sertillanges em A Vida Intelectual, de fazer uma "policultura" para não ficar com o pensamento viciado ao ver material só de uma área -- como faz um especialista, aliás, e acaba querendo resumir tudo à sua área, não por uma escolha consciente, mas por consequência; a segunda é que é preciso ler de tudo um pouco para ter matéria sobre o que pensar: alguém do curso de filosofia é cobrado apenas na leitura de livros filosóficos, então não vai precisar nunca ler os avanços das pesquisas nas ciências físicas, na neurociência, na biologia etc. etc., sendo que, na prática, esses conhecimentos são necessários para realmente entender o texto filosófico não como um texto que se pode aceitar ou recusar, mas como um discurso que fale sobre a vida (e aí pode estar mais ou menos certo);
-> Os 5 livros de filosofia "lidos devagar" é parte do exercício que Olavo passa na aula 10. A ideia é usar desses livros de filosofia para cumprir o que falei acima: o texto não é só um discurso, mas uma oportunidade para puxar o máximo possível de referências de outras leituras, de experiências vividas etc. Assim, por exemplo, se pode fazer com um texto de Leibniz (como a Teodiceia ou o Discurso de Metafísica), com o texto do Louis Lavelle (O Mal e o Sofrimento, O Erro de Narciso, Presença Total etc.), com um texto de Aristóteles isso é ainda mais fundamental, porque eles são sínteses que servem mais como método do que como conteúdo "up-to-date": tudo o que ele fala em todas as áreas foi o ponto de partida para os avanços nas ciências, então ele está "ultrapassado", mas ao mesmo tempo dele surge o objeto e o método que gerou tudo o mais -- daí que estudá-lo é tomar consciência plena desses objetos e ser capaz de julgar como eles chegaram ao ponto em que estão hoje. Já Platão, por exemplo, apesar de ser Filosofia, pode ser lido mais rapidamente, mas ainda assim requer muita meditação;
-> Atenção para a letra miúda: ao longo dos anos muito se reclamou dos 60 livros por ano, mas é pior ainda: Olavo recomenda mais 100 a 200 livros lidos com "leitura inspecional". Para entender melhor o que é isso, veja Mortimer Adler Como Ler Livros. Em suma, é vasculhar o livro, mas não sem método: procura-se ter uma ideia geral da sua proposta através da observação da capa, contracapa, orelhas, sumário, referências, leitura de trechos. Cada livro é um pacote de informações com uma unidade: tomar consciência disso ajuda a tentar juntar os elementos coletados nessa imagem. Esses 100 a 200 livros você descobre vasculhando pdfs na internet, indo a livrarias, bibliotecas, vendo os livros na sua casa ou na casa de amigos, também podem ser periódicos, dissertações ou teses etc.. Não é o caso de vídeos no youtube, porque não são os livros, mas interpretações sobre eles; mas é possível ver sugestões de livros, rapidamente, e daí procurar o próprio livro para fazer dele uma imagem de experiência pessoal. Se são 60 livros de leitura normal e 100 a 200 de inspecional, significa, obviamente, que é preciso ter maior repertório de livros possíveis do que de livros lidos: é que enquanto lê, as sugestões de leitura que você tiver vasculhado vão voltar à sua mente, e as informações vão começar a sugerir relações mútuas. Só se pode pensar naquilo que já se ouviu falar. É como vocabulário passivo vs vocabulário ativo, ou seja, o vocabulário que você é capaz de entender em relação ao que é capaz de usar: o primeiro necessariamente precisa superar o segundo.
4.3- Como se tornar um bom escritor
https://drive.google.com/file/d/1xDJNBLhc9PVrgDS0aFtftKjyTMkOTclf/view?usp=drive_link
[Não tem mais este vídeo no Youtube, então upei no drive]
-> Não se trata só sobre ser escritor, é também a ideia de emulação e saber separar isso de inveja na hora de aprender alguma coisa (inclusive virtude): para saber um pouco mais, vejam o Arte Retórica de Aristóteles.
-> Mas sobre imitação de escritor, Olavo recomenda a leitura das principais obras de um autor por vez, para apreender seu estilo. Para alguns exemplos, ver aqui.
4.4- Como ler Livros? Olavo de Carvalho
-> O caso do fichamento e do rapaz que lia pra caramba e não entendia nada. Atenção: isso não só é possível, como absolutamente comum. Seja por não entender, seja por, como a pessoa não tem uma finalidade real nos estudos, esquecer praticamente tudo o que leu.
5- O Problema dos Brasileiros - Olavo de Carvalho
-> A falta de densidade na compreensão do mundo em que estamos. As coisas parecem que surgem do nada, como mágica, porque não paramos pra prestar atenção na sua profundidade: de onde vêm as coisas que estão ao nosso redor, como que essas coisas chegam até nós, e como que essas coisas se correlacionam. Por exemplo: para que eu possa estar aqui na frente deste PC (e penso só nele, além de todo o resto), é preciso uma grande quantidade de ideias e esforço humano. Algumas dessas: a eletricidade, a base aritmética capaz de construir um modelo binário e hexadecimal de numeração, o sistema RGB; as técnicas de materiais necessários para formar o monitor, a base do notebook, o sistema das teclas, o design; a ideia de loja (um lugar que serve de mediador entre inúmeros produtores e inúmeros consumidores), o transporte dos materiais dos produtores até a loja (e, no transporte, o combustível e tudo o mais que lhe disser respeito); a ideia de indústria, dos modos de produção, o trabalho humano em todas essas etapas (sem falar nos dramas humanos envolto), as técnicas de produção das máquinas e desse trabalho humano, etc. etc..
-> Nada dentro do mundo humano está fora dessa rede complexa de conexões, e mesmo que o sujeito vá para o mato, viver totalmente isolado, sua decisão foi uma decisão humana, e ele não terá como apagar o fato de ter uma linguagem e não ser um animal afásico.
6.1- Amor - Concepções Filosóficas
https://www.youtube.com/watch?v=uCHqUdZFuHM
6.2- Primeiro Mandamento - Amar à Deus sobre todas as coisas - Olavo de Carvalho
https://www.youtube.com/watch?v=U-i6C_qV-U8
-> [Muitas vezes o que chamamos de "inferno" é na verdade o grupo social que temos medo de decepcionar ou de, na hora de dependência econômica ou emocional, não termos mais o apoio deles]
-> Amar a Deus é a base de onde Olavo fala de "senso das proporções". Ou seja, perceber a hierarquia das coisas e obedecê-la. O que vale mais, merece mais atenção e respeito.
O Primeiro Mandamento institui o senso das proporções como obrigação universal incontornável. Deus considerou perfeitos muitos homens que, no julgamento de hoje, seriam condenados como pecadores contumazes.
O pior dos hipócritas é aquele que só denuncia a hipocrisia para poder jogar as virtudes no lixo junto com os vícios. Não tenho a menor dúvida de que o príncipe deles é Friedrich Nietzsche.
6.3- Olavo de Carvalho - Sobre a Timidez
-> "Ah mas Olavo manda a gente sair brigando com comunista" -- tem que saber o tom da coisa. Primeiro, é só se você souber de fato refutar a questão; segundo, só se pode fazer algo se a intenção é genuinamente ajudar a pessoa, não só brigando, mas se prestando a oferecer um caminho alternativo com empenho genuíno;
-> Dá para se dizer que este aqui é o Segundo Mandamento. É interessante assisti-lo nessa sequência proposta aqui, 6.1, 6.2, 6.3, para tentar perceber a hierarquia: primeiro é preciso discernir o que é Amor, para então procurar o que vale mais ser amado, para então perceber os meios de amar ao próximo. Mas nisso existe uma tentativa de reconhecer que a pessoa é alguma coisa, e quer ser genuinamente alguma coisa, e amar ao próximo não é querer fazer dele o que achamos que é certo, mas confiar que ele foi feito para ser algo de Bom, e quer ser isso, ainda que na prática viva confuso: e daí ajudar a sê-lo isto e não outra coisa. É só nesse contexto que se pode entender o lado briguento do Olavo.
Existem muitos artigos, bastante úteis, mas não colocarei como algo necessário. No máximo como complemento. Sâo eles:
https://olavodecarvalho.org/a-tragedia-do-estudante-serio-no-brasil/
https://olavodecarvalho.org/se-voce-ainda-quer-ser-um-estudante-serio/
https://olavodecarvalho.org/a-mensagem-de-viktor-frankl/
https://olavodecarvalho.org/sobre-o-ensino-da-filosofia/
[interpretação da obra de Lima Barreto] https://olavodecarvalho.org/o-milagre-da-solidao-olavo-de-carvalho/
https://olavodecarvalho.org/vocacoes-e-equivocos/
https://olavodecarvalho.org/quando-a-alma-e-pequena/
https://olavodecarvalho.org/como-ler-a-biblia/
https://olavodecarvalho.org/dicas-de-estudo/
https://olavodecarvalho.org/quem-e-filosofo-e-quem-nao-e/
[OPÚSCULO SOBRE O MODO DE APRENDER E DE MEDITAR] http://www.cristianismo.org.br/pfp-03.htm
A visão geral aqui, para resumir, é: I) É preciso ser maximamente sincero; II) Ser sincero implica buscar tomar consciência dos elementos que formaram a sua consciência (quais filmes, séries, obras, experiências tiveram impacto nas suas escolhas passadas e podem estar gerando impacto hoje); III) tomada posse gradativa dessa sinceridade, é possível tentar ler os autores a partir não de nossos preconceitos, mas do que eles próprios pensavam sobre o mundo, para, com apoio deles e de mais e mais autores, tentar enxergar o mundo com a densidade de ideias que nos foi oferecida, harmonizando-as dialeticamente como aspectos desse mundo; IV) O Sumo Bem é o que vai se revelando no próprio processo de perceber essa hierarquia dialética que harmoniza as ideias; V) A prática religiosa só ganha sentido proporcionalmente a esse esforço; VI) Também nesse esforço é que se pode entender o que é de fato Amor.
1.1 - Oração e autoconhecimento
-> retomar a sua história, entender o que fez, por que fez, mesmo que tenha que mentir para viver no mundo, mas que retome sua história para não perder o fio da sinceridade pessoal, constantemente ["conhece-te a ti mesmo"]
1.2- Como são nossos pensamentos - Olavo de Carvalho.
-> O conjunto de coisas que você consome, quer preste atenção ou não, sopra sugestões de ideias e/ou molda seu modo de sentir as coisas. Na medida em que não tomamos consciência desses elementos, não podemos falar que tomamos nossas decisões com liberdade efetiva. Isso vale inclusive para a fé: mesmo com fé, é provável que ela esteja sendo filtrada ou mesmo destruída por inúmeros elementos pegos da cultura (e também da nossa história), e podemos passar uma vida inteira sem nunca tomar consciência disso.
-> [AVALIEM A SITUAÇÃO CONTEMPORÂNEA, em que somos o tempo inteiro inundado por informações as mais desencontradas possíveis! São fontes diferentes, com propostas diferentes, com propósitos diferentes, e tudo isso forma uma montanha imensa de confusão da qual sequer prestamos atenção, e tentamos esquecer, mas que não é realmente esquecido: está na nossa memória, e se torna um fator que também molda nossas decisões.]
2- Aprendendo a escrever
https://olavodecarvalho.org/aprendendo-a-escrever/
-> A questão aqui não é sobre escrita, mas sim em perceber que por baixo de um grande escritor existe uma tradição e uma história. É um convite a aprender a ler prestando atenção nesses elementos, para perceber, por exemplo, que Miguel de Unamuno continua Cervantes e Platão, que Machado de Assis continua Voltaire, e Ariano Suassuna continua Gil Vicente. Cada pessoa usa uma linguagem emprestada de um meio, e quem reconhece os vários meios consegue extrair ainda mais informações só em perceber o contexto que empresta significado às palavras do sujeito. É ler, não só textos, com profundidade, tentando captar o sentido específico e a intenção real nas palavras e coisas.
3.1- Como estudar, ler e escrever
-> Estudar com sinceridade total, aquilo que você realmente quer ser responsável. Eu falei do estudo por área e o estudo por tema: no estudo por área é possível fazer por uma obrigação burocrática: você cuida só de preparar os próximos artigos e conferências. Há uma forma de avaliação a que se está sendo submetido, como na escola ou na graduação, e basta "passar" e receber a recompensa (o salário). O estudo por tema, não: ele nasce e só se mantém pela busca genuína por entender alguma coisa, juntando as várias áreas, e é um trabalho cansativo, exaustivo, e que não tem um meio social que corresponda a isso. Ou seja, é preciso ter interesse real, tomando aquilo a partir da sua vida e para resolver sua própria vida. Veja, por exemplo, o ensaio sobre o filme Aurora do Olavo.
-> "Ordem na leitura não existe". Nós nos acostumamos com a ideia de uma ordem a partir de um currículo; por outro lado existe a ordem histórica do nascimento e desenvolvimento das ideias. Ainda assim, não podemos entender nada pelo seu rastreio histórico, porque fomos formados a partir de um caos de ideias, que não corresponde nem ao de quem vivia no passado, ao mesmo tempo em que tem já seus pressupostos: então é preciso perceber a ordem que existe nas próprias ideias, ou nos próprios temas, e, para isso, frequentemente vai-se do passado para o presente, ou para um passado mais próximo.
3.2- Aprender as coisas com ordem através da leitura
-> a diferença da ordem didática, curricular, e a ordem cósmica. Como no vídeo anterior, aqui ele detalha: todas as ideias humanas tentam compreender as coisas, com maior ou menor precisão. Pela imaginação, como Olavo ensina com apoio de Stanislavski, é possível tentar encaixar as várias ideias numa só ideia, dialeticamente, que coloque as várias ideias em uma ordem hierárquica correspondente. Essa é a ordem real do tema, e requer primeiro uma confiança, que sempre existia, mas hoje não existe mais, e em seguida o esforço por encaixar as pecinhas na medida em que lê e tenta entender com o máximo de sinceridade possível.
4.1- Dicas de Estudos
-> O essencial do que fica da sua leitura são as frases que te chamaram mais atenção (e/ou que você leu com mais atenção) e as imagens que vieram e/ou que você trouxe, as associações, portanto, enquanto lia as frases. É por isso, por exemplo, que há o exercício de leitura lenta na aula 10: é pra treinar essa habilidade para que ela frutifique mais;
-> ler com lápis na mão para marcar o importante. Particularmente, eu separo uma folha, que dobro duas vezes no meio, para anotar as frases que me chamaram mais atenção e as ideias que vierem, porque facilita à memória. Ademais, em geral no começo dos estudos tudo ali é novo, então tudo chama atenção e mereceria ser marcado. O modo como Olavo fala, de só marcar o pedacinho que interessa, só vale mesmo quando já se estiver estabelecido, mas, também, é uma chamada de atenção para separar aquilo do livro que chama atenção, que pode ser quase tudo, para as coisas que são de fato mais importantes: se eu marco, por exemplo, todos os trechos que me chamam atenção (façam de lápis, para ser possível apagar), mas mesmo assim eu costumo separar na página de rosto as páginas onde têm os trechos que mais me chamaram atenção. São poucos, e esses são, de fato, o que ficam nos estudos;
-> Olavo fala imaginando que você leria 60 a 80 livros por ano. Então nem faz sentido sair fichando os livros, como, aliás, a posse desses livros, ainda que virtual, como pdfs, ou como fotos, implica os problemas de organizar a informação para ser capaz de retomá-la. Pensar nas categorias gerais de organização (CDI, CDU), nos temas que te interessam (e organizar com base neles), nas circunstâncias que te fizeram chegar ao livro (e entender a relação dele com as ideias que te atraem) é importantíssimo.
4.2- 60 livros por ano
-> Obviamente que isto aqui não é para quem está iniciando, mas serve como meta geral para quando os estudos já tiverem alguma consistência e regularidade;
-> Também não precisa seguir com exatidão as categorias propostas. São só a título de ilustração, e elas servem para cumprir basicamente duas propostas: a primeira é a recomendação do Antonin Sertillanges em A Vida Intelectual, de fazer uma "policultura" para não ficar com o pensamento viciado ao ver material só de uma área -- como faz um especialista, aliás, e acaba querendo resumir tudo à sua área, não por uma escolha consciente, mas por consequência; a segunda é que é preciso ler de tudo um pouco para ter matéria sobre o que pensar: alguém do curso de filosofia é cobrado apenas na leitura de livros filosóficos, então não vai precisar nunca ler os avanços das pesquisas nas ciências físicas, na neurociência, na biologia etc. etc., sendo que, na prática, esses conhecimentos são necessários para realmente entender o texto filosófico não como um texto que se pode aceitar ou recusar, mas como um discurso que fale sobre a vida (e aí pode estar mais ou menos certo);
-> Os 5 livros de filosofia "lidos devagar" é parte do exercício que Olavo passa na aula 10. A ideia é usar desses livros de filosofia para cumprir o que falei acima: o texto não é só um discurso, mas uma oportunidade para puxar o máximo possível de referências de outras leituras, de experiências vividas etc. Assim, por exemplo, se pode fazer com um texto de Leibniz (como a Teodiceia ou o Discurso de Metafísica), com o texto do Louis Lavelle (O Mal e o Sofrimento, O Erro de Narciso, Presença Total etc.), com um texto de Aristóteles isso é ainda mais fundamental, porque eles são sínteses que servem mais como método do que como conteúdo "up-to-date": tudo o que ele fala em todas as áreas foi o ponto de partida para os avanços nas ciências, então ele está "ultrapassado", mas ao mesmo tempo dele surge o objeto e o método que gerou tudo o mais -- daí que estudá-lo é tomar consciência plena desses objetos e ser capaz de julgar como eles chegaram ao ponto em que estão hoje. Já Platão, por exemplo, apesar de ser Filosofia, pode ser lido mais rapidamente, mas ainda assim requer muita meditação;
-> Atenção para a letra miúda: ao longo dos anos muito se reclamou dos 60 livros por ano, mas é pior ainda: Olavo recomenda mais 100 a 200 livros lidos com "leitura inspecional". Para entender melhor o que é isso, veja Mortimer Adler Como Ler Livros. Em suma, é vasculhar o livro, mas não sem método: procura-se ter uma ideia geral da sua proposta através da observação da capa, contracapa, orelhas, sumário, referências, leitura de trechos. Cada livro é um pacote de informações com uma unidade: tomar consciência disso ajuda a tentar juntar os elementos coletados nessa imagem. Esses 100 a 200 livros você descobre vasculhando pdfs na internet, indo a livrarias, bibliotecas, vendo os livros na sua casa ou na casa de amigos, também podem ser periódicos, dissertações ou teses etc.. Não é o caso de vídeos no youtube, porque não são os livros, mas interpretações sobre eles; mas é possível ver sugestões de livros, rapidamente, e daí procurar o próprio livro para fazer dele uma imagem de experiência pessoal. Se são 60 livros de leitura normal e 100 a 200 de inspecional, significa, obviamente, que é preciso ter maior repertório de livros possíveis do que de livros lidos: é que enquanto lê, as sugestões de leitura que você tiver vasculhado vão voltar à sua mente, e as informações vão começar a sugerir relações mútuas. Só se pode pensar naquilo que já se ouviu falar. É como vocabulário passivo vs vocabulário ativo, ou seja, o vocabulário que você é capaz de entender em relação ao que é capaz de usar: o primeiro necessariamente precisa superar o segundo.
4.3- Como se tornar um bom escritor
https://drive.google.com/file/d/1xDJNBLhc9PVrgDS0aFtftKjyTMkOTclf/view?usp=drive_link
[Não tem mais este vídeo no Youtube, então upei no drive]
-> Não se trata só sobre ser escritor, é também a ideia de emulação e saber separar isso de inveja na hora de aprender alguma coisa (inclusive virtude): para saber um pouco mais, vejam o Arte Retórica de Aristóteles.
-> Mas sobre imitação de escritor, Olavo recomenda a leitura das principais obras de um autor por vez, para apreender seu estilo. Para alguns exemplos, ver aqui.
4.4- Como ler Livros? Olavo de Carvalho
-> O caso do fichamento e do rapaz que lia pra caramba e não entendia nada. Atenção: isso não só é possível, como absolutamente comum. Seja por não entender, seja por, como a pessoa não tem uma finalidade real nos estudos, esquecer praticamente tudo o que leu.
5- O Problema dos Brasileiros - Olavo de Carvalho
-> A falta de densidade na compreensão do mundo em que estamos. As coisas parecem que surgem do nada, como mágica, porque não paramos pra prestar atenção na sua profundidade: de onde vêm as coisas que estão ao nosso redor, como que essas coisas chegam até nós, e como que essas coisas se correlacionam. Por exemplo: para que eu possa estar aqui na frente deste PC (e penso só nele, além de todo o resto), é preciso uma grande quantidade de ideias e esforço humano. Algumas dessas: a eletricidade, a base aritmética capaz de construir um modelo binário e hexadecimal de numeração, o sistema RGB; as técnicas de materiais necessários para formar o monitor, a base do notebook, o sistema das teclas, o design; a ideia de loja (um lugar que serve de mediador entre inúmeros produtores e inúmeros consumidores), o transporte dos materiais dos produtores até a loja (e, no transporte, o combustível e tudo o mais que lhe disser respeito); a ideia de indústria, dos modos de produção, o trabalho humano em todas essas etapas (sem falar nos dramas humanos envolto), as técnicas de produção das máquinas e desse trabalho humano, etc. etc..
-> Nada dentro do mundo humano está fora dessa rede complexa de conexões, e mesmo que o sujeito vá para o mato, viver totalmente isolado, sua decisão foi uma decisão humana, e ele não terá como apagar o fato de ter uma linguagem e não ser um animal afásico.
A impotência gera o sonho de onipotência. Todo idealismo subjetivo — sobretudo os disfarçados, tão comuns na modernidade — reflete um desejo de fugir para um mundinho da nossa própria invenção. Não me curei disso estudando, mas ficando perdido no mato por quatro dias. NADA ali era o que eu pensava.
6.1- Amor - Concepções Filosóficas
https://www.youtube.com/watch?v=uCHqUdZFuHM
6.2- Primeiro Mandamento - Amar à Deus sobre todas as coisas - Olavo de Carvalho
https://www.youtube.com/watch?v=U-i6C_qV-U8
-> [Muitas vezes o que chamamos de "inferno" é na verdade o grupo social que temos medo de decepcionar ou de, na hora de dependência econômica ou emocional, não termos mais o apoio deles]
-> Amar a Deus é a base de onde Olavo fala de "senso das proporções". Ou seja, perceber a hierarquia das coisas e obedecê-la. O que vale mais, merece mais atenção e respeito.
O Primeiro Mandamento institui o senso das proporções como obrigação universal incontornável. Deus considerou perfeitos muitos homens que, no julgamento de hoje, seriam condenados como pecadores contumazes.
O pior dos hipócritas é aquele que só denuncia a hipocrisia para poder jogar as virtudes no lixo junto com os vícios. Não tenho a menor dúvida de que o príncipe deles é Friedrich Nietzsche.
6.3- Olavo de Carvalho - Sobre a Timidez
-> "Ah mas Olavo manda a gente sair brigando com comunista" -- tem que saber o tom da coisa. Primeiro, é só se você souber de fato refutar a questão; segundo, só se pode fazer algo se a intenção é genuinamente ajudar a pessoa, não só brigando, mas se prestando a oferecer um caminho alternativo com empenho genuíno;
-> Dá para se dizer que este aqui é o Segundo Mandamento. É interessante assisti-lo nessa sequência proposta aqui, 6.1, 6.2, 6.3, para tentar perceber a hierarquia: primeiro é preciso discernir o que é Amor, para então procurar o que vale mais ser amado, para então perceber os meios de amar ao próximo. Mas nisso existe uma tentativa de reconhecer que a pessoa é alguma coisa, e quer ser genuinamente alguma coisa, e amar ao próximo não é querer fazer dele o que achamos que é certo, mas confiar que ele foi feito para ser algo de Bom, e quer ser isso, ainda que na prática viva confuso: e daí ajudar a sê-lo isto e não outra coisa. É só nesse contexto que se pode entender o lado briguento do Olavo.
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Existem muitos artigos, bastante úteis, mas não colocarei como algo necessário. No máximo como complemento. Sâo eles:
https://olavodecarvalho.org/a-tragedia-do-estudante-serio-no-brasil/
https://olavodecarvalho.org/se-voce-ainda-quer-ser-um-estudante-serio/
https://olavodecarvalho.org/a-mensagem-de-viktor-frankl/
https://olavodecarvalho.org/sobre-o-ensino-da-filosofia/
[interpretação da obra de Lima Barreto] https://olavodecarvalho.org/o-milagre-da-solidao-olavo-de-carvalho/
https://olavodecarvalho.org/vocacoes-e-equivocos/
https://olavodecarvalho.org/quando-a-alma-e-pequena/
https://olavodecarvalho.org/como-ler-a-biblia/
https://olavodecarvalho.org/dicas-de-estudo/
https://olavodecarvalho.org/quem-e-filosofo-e-quem-nao-e/
[OPÚSCULO SOBRE O MODO DE APRENDER E DE MEDITAR] http://www.cristianismo.org.br/pfp-03.htm
Igor, verussagabi e freemo gostam desta mensagem
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