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[TURMA DO COF - Semana 3] Dois ex-alunos Empty [TURMA DO COF - Semana 3] Dois ex-alunos

Sáb Jul 08, 2023 3:58 pm
Esta semana vai ser um material em cima de dois ex-alunos do Olavo. Um é a favor, outro é contra. A ideia aqui é ter uma imagem dos erros mais comuns e, tomando consciência deles, tentar evitá-los. Na próxima semana serão alguns textinhos curtos, e vídeos curtos, do Olavo, para então iniciarmos o curso Princípios e Métodos da Auto-educação, a partir do resumo do próprio ex-aluno apresentado aqui.


Thiago Capanema: Conheceu Olavo em 2008, fundou o Grupo de Transcrições das aulas, mas aparentemente não conseguiu permanecer por muito tempo. Seu depoimento é de setembro de 2014. Não conheço seu nome nas rodas olavettes, o que pode implicar que abandonou mais esse caminho; idem, seus textos no Medium, com exceção dos dois citados, não parecem refletir alguém que tenha permanecido e aprofundado os estudos

Horácio Neiva: Conheceu Olavo no final de 2007 ao entrar na universidade através do texto "A tragédia do estudante sério no Brasil". Durou o período da graduação (então provavelmente até 2011~2013). O Horácio representa o aluno que passou pelo Olavo e "não viu nada ali". Cada um mede o outro conforme aquilo que é capaz de enxergar, então é um texto arriscado, mas é também útil para ver o que é alguém que "não viu nada", como os prisioneiros da caverna de Platão, que mesmo que alguém lhes mostre algo, não veem nada além de sombras.

Thiago Capanema, em dois textos:
--- Da lama ao caos e à redenção: as etapas pelas quais passei enquanto aluno do professor Olavo de Carvalho: Um ensaio sobre tudo o que você não deve fazer
--- Algumas considerações e dicas aos alunos de Olavo de Carvalho

Texto 1:
-> Pra quem não notou, o Thiago cita trechos de Manuel Bandeira ("só me restava dançar um tango argentino", "a educação que eu poderia ter tido e não tive"). Isso coloca no texto um tom, como perpassa pela obra do Bandeira, de uma vida desperdiçada, do desejo de conseguir achar sentido nesse desperdício e aceitar a desgraça para redimi-la.

-> "Eu percebia, à época, que o que me faltava era um método". Um dos grandes problemas no nosso país é que muita gente se interessa por estudar por conta própria, mesmo sem receber nada em troca, mas não tem método nenhum e, na verdade, nem sequer imagina que isso seja necessário -- e assim se joga no caos da informação sem nunca mais sair dele, e sem perceber o imenso desperdício de tempo, porque dentro de poucos anos já não se lembrará de quase nada do que leu e, se aquilo não se cola a um conjunto com significado (uma obra, um projeto, um método), nada ou quase nada sobra.

-> Ele menciona a apostila "Considerações sobre o Seminário de Filosofia". Você pode acessá-la neste link aqui, caso queira complementar sua leitura: Considerações sobre o Seminário de Filosofia

Texto 2:
-> As pessoas acabam se prendendo a alguma frase ou ideia que o Olavo colocou, substituindo pelo seu desejo genuíno. Se você quer realmente escrever, por exemplo, mas não fez toda a rota que Olavo mandou, escreva mesmo assim, mas sem deixar escapar a possibilidade de que talvez o material não esteja bom, e, ainda assim, o que saiu foi uma primeira visão do objeto escrito, que pode ser aperfeiçoado a longo prazo na medida em que os estudos vierem.


Horácio Neiva, em um vídeo:
Reflexões de um EX-ALUNO do Olavo de Carvalho | Horácio Neiva (EX-OLAVISTA) e Daniel Gontijo

[essa entrevista é muito ruim, eo  Horácio erra em praticamente todos os pontos em que fala do Olavo, mas como exemplo de um ex-aluno, é interessante]

-> Nota geral: o discurso público americano (importado para nós) divide as pessoas em especialistas e generalistas. Essa divisão me parece de antemão um equívoco, porque a palavra "generalista" dá a entender de um sujeito que não tem nenhum foco, e facilmente se confunde a ideia desse opositor do especialista como alguém de menor valor. Prefiro formular a divisão "especialista em área" em oposição ao "especialista em tema". A formação acadêmica é toda ela voltada para formar um especialista em área. Mas qualquer grande escritor é especialista em alguma coisa: no mínimo, no "tema" que é a técnica da sua arte, os melhores, porém, também compõem na sua arte um tema que se torna o centro da sua investigação: Machado de Assis era especialista na maldade e pequenez brasileira, como Nelson Rodrigues também o foi, porém num subtema, que é a maldade sexual. Dostoiévski era especialista nos movimentos da inteligência humana que a levavam para o Mal e que podiam tirá-la do Mal, e Manuel Bandeira era especialista na poética de vários países, na língua portuguesa, e no que é uma vida em busca de sentido, tal qual Victor Frankl, mudando o grau de generalização (o primeiro explica a aplicação, o segundo teoriza). É também "especialista em tema" o sujeito de cidade pequena que domina a história local e das famílias da cidade, ou fauna e flora, e tem, portanto, uma vivência profunda da região. Se produzem livros ou não, isso é secundário, mas o fato é que essas pessoas sempre tiveram um papel compreensível na sociedade, que desapareceu após a tomada do conhecimento pelos "especialistas em área" (crescimento das universidades). Sem uma mínima reflexão dessa problemática e suas implicações, nada do Olavo faz sentido. Ele é "especialista em tema". Não é um "generalista", na terminologia americana, também não é um especialista no sentido acadêmico, e ele sabia disso. Mas não tínhamos ainda uma experiência suficiente para nomear sua posição. Dito isso, vamos a outros pontos.

-> Antes de mais nada é preciso destacar que existem, sim, alunos que ficam por anos acompanhando o Olavo e, na prática, não entendem nada. Cheguei a ver pessoas que ficaram 20 anos, e, apesar de terem adquirido discurso e memórias, essas palavras não acompanham uma compreensão real da ordem hierárquica do pensamento do Olavo ou dos temas que se propõem a falar. É um fenômeno muito triste, e que tive acompanhar e descobrir suprimindo muitas lágrimas. Não tenho uma explicação plena, mas o caso do Horácio Neiva é um exemplo, apesar dele ter ficado pouco tempo. Não tenho ainda uma definição no assunto, mas sei que um ponto fundamental dele é o seguinte: entender o Olavo não é como passar numa disciplina na escola ou na universidade. Lá basta você memorizar o conteúdo e saber dele o suficiente para parafraseá-lo na hora de responder e ser avaliado. Não, entender o Olavo seria o equivalente a um curso que exigisse que, além de passar nas disciplinas, fosse preciso não compor um TCC/dissertação a partir de um tópico escolhido dentro da área, mas, ao contrário, ao longo do curso, fazer um esforço consciente por achar a conexão em todas as disciplinas do curso e montar um livro que expusesse não um tópico a partir do tema, mas as bases que fundamentam as disciplinas, quais objetos científicos elas fundamentam e como enxergar uma unidade em toda a grade. Esse trabalho não existe na universidade. Nós confiamos na grade e basta memorizá-la o suficiente para seguir adiante, sem nunca retomar propriamente, apenas memorizando sua linguagem e aprofundando em subáreas cada vez mais específicas, sem jamais retomar a esse esforço de entender o chão onde pisa esse conhecimento. Do mesmo modo, com Olavo pode-se medir, imagino, o grau de aprofundamento pelo esforço que o sujeito fez em literalmente botar a mão na massa e entender o pensamento do Olavo em conjunto, a qualquer custo: inclusive vasculhando sua biografia, seus hábitos, o modo como lida com situações e pessoas etc.. Se a ideia é entender o conjunto de sua "forma mentis", é preciso toda e qualquer pista. Daí, ainda que semi-conscientemente, nascer essa emulação por hábitos do Olavo.

-> sobre a aula 10, isso eu comentarei quando chegarmos lá, mas só para adiantar: não é preciso ler uma frase. Mas é preciso não ler muito, para ser suficiente para, naquelas frases, vasculhar toda a gama de referências, sugestões e ideias que ela traz. A leitura das frases seguintes, nos dias seguintes, implica a necessidade de coerência com as imagens mentais dos dias anteriores, e é essa busca por coerência que permite a veracidade progressiva, o entendimento do texto.

-> "Não havia um método". Ao contrário, o COF é todo fundado na experiência dos 4 discursos, isto é, tomada de posse da sua biografia e dos elementos imaginários que a formaram, expansão dessa imaginação pela absorção de literatura e cultura distintas da sua, e gradual exercício do discurso público que representa manifestações desse quadro imaginativo. Após essa tomada de consciência sucessiva, é possível colocar questões propriamente filosóficas cada vez mais abrangentes, pois o discurso político e o discurso científico, ambos entram no jogo da formação da nossa imagem de mundo, mas é preciso primeiro conhecê-los e ver as bases em que se erguem. Um religioso e um cientista num debate moderno partem de quadros imaginativos completamente distintos, de modo que nunca há propriamente um debate, apenas uma exposição de confusões a partir da falta de consciência de ambos os quadros, o do debatedor e do adversário.

-> "O Olaverso, querer saber até da alimentação": Como já falei, nasce implicitamente dessa percepção de que é necessário entender a unidade do pensamento do Olavo, ou seja, mudar de estratégia, de "estudar por área" para "estudar por tema". Na falta de "método", como diz o Thiago Capanema, isto é, como ninguém expôs a situação e como chegar a isso, cada um para no degrau que lhe é mais propício conforme suas aptidões momentâneas, e, geralmente, se revolta contra o Olavo antes de poder ir mais longe, e foge da obra. O Horácio Neiva é um exemplo. De certo modo o Thiago Capanema também.

-> "Não se apegue ao universo mental de ninguém": essa frase é óbvia, mas por outro lado, e Olavo menciona ao dizer que é preciso passar 20 anos com ele como Aristóteles com Platão, é preciso abstrair as críticas a um pensamento antes de cobrir-lhe elementos suficientes para ver a forma do conjunto. Não se trata aqui de absorver dados de uma disciplina com a finalidade de exercer uma profissão que nada em si tem a ver com a teoria da disciplina, mas, ao contrário, de fazer o esforço por não só absorver a forma de conjunto de um pensamento, mas tornar-se capaz de fazer isso. Nada na nossa educação ensina isso, então soa bizarro, e, ainda assim, é um problema seríssimo. Ademais, quando falo em abstrair as críticas não significa não notar estranhezas, mas deixá-las guardadas até saber o suficiente do assunto, por acumulação de leituras, para descobrir se aquilo que era estranho é mesmo estranho, se é natural, se é um erro etc.. Muita coisa que parece estranha é só por burrice nossa mesmo, ou seja, nossa experiência de vida e com o mundo das ideias é muito pouca ainda para que aceitemos a ideia.

Complementos:
Fio do Twitter com o comentário do Horácio Neiva, em 2019
Segundo fio, em 25 de janeiro de 2022 [logo após a morte do Olavo], que levou Horácio a ser entrevistado
‘Não havia nada ali’: o que aprendi como aluno de Olavo de Carvalho
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